11 de janeiro de 2012

Turismo e áreas protegidas, uma perspectiva histórica

Fonte: O Eco

Retrato do 8o Duque de Hamilton em sua Grand Tour, pintado por Jean Preudhomme.

Os patrimônios naturais e culturais estão na base dos atrativos turísticos. Para ser interessante há que haver aspectos naturais relevantes que destaquem a beleza e/ou a sublimidade daquilo que não é obra da mão do homem – fauna, flora, praias, rios, cachoeiras, paisagens deslumbrantes – ou, ao contrário, aspectos culturais que ponham em evidência a genialidade do artefato humano – arquitetura, urbanismo e cultura imaterial. Existem também aqueles atrativos que misturam natureza e cultura – jardins e terras cultivadas.

Nascimento do turismo

O turismo, como o entendemos hoje, é uma atividade relativamente recente. Entretanto, a figura do viajante é universal e está presente nas mais diversas culturas. No ocidente, podemos pensar nos gregos, um povo de navegadores – Ilíada e Odisseia, obras maiores da mitologia grega, são elas mesmas viagens. Há também as grandes peregrinações religiosas da Idade Média e as viagens de comércio – como bem ilustra a experiência de Marco Polo. Por fim, as grandes navegações que tornaram o planeta um só. Essas viagens guardam em comum com as viagens de turismo a ideia de que o viajante entra em contato com uma realidade nova, antes desconhecida, e volta modificado pela experiência, com uma perspectiva ampliada do mundo. O viajante é um contador de estórias, um mediador entre dois mundos, o seu e aquele outro que ele agora conhece.

"Valorização da natureza dependeu de uma inversão da percepção em relação a sua face mais selvagem, awilderness."
A experiência mais próxima do turismo atual é o Grand Tour, que se desenvolveu na Europa, nos séculos XVII e XVIII. No começo, era a elite inglesa que enviava seus filhos, acompanhados de tutores, para grandes viagens, visando o aprendizado e o amadurecimento no continente europeu. Tratava-se de “mergulhar” na cultura européia e retornar preparado para a vida adulta. O costume se difundiu pelas elites européias, e os destinos se tornaram mais abrangentes, incluindo viagens pelos diversos continentes, com um toque de exotismo. Tornaram-se comuns, também, as viagens de estudo, sobretudo para conhecer a natureza do Novo Mundo – a mais célebre delas foi a de Charles Darwin a bordo do Beagle. Nesse caso, é uma descoberta do mundo natural.

“Wilderness”

"Conceito dewilderness não tem uma tradução exata para o português, mas o mais próximo é a noção de sertão."
O turismo é contemporâneo do transporte a vapor (navios e trens) e vai, a partir do século XIX, aos poucos, permitir que as viagens com o intuito de conhecer e usufruir da natureza e da cultura de localidades, mais ou menos, distantes, se tornem mais difundidas. A cultura significava a civilização, nas suas mais variadas facetas, mas, no começo, muito mais identificada com a Europa. A valorização da natureza dependeu de uma inversão da percepção em relação a sua face mais selvagem, awilderness.

O conceito de wilderness não tem uma tradução exata para o português, mas o mais próximo é a noção de sertão, como um lugar em que a presença humana é pouco perceptível, espaços “desertos” e/ou deserdados pela civilização, e onde predomina a natureza em toda a sua “selvageria”, ou onde os habitantes humanos vivem em uma proximidade e intimidade com o “mundo selvagem”. No imaginário ocidental, a wilderness estava associada a locais demoníacos, como o deserto onde Cristo foi tentado, e em que as amarras que prendiam o homem à civilização se afrouxavam e prevaleciam as inclinações dos instintos e desejos mais “selvagens”. A natureza que se valorizava era a da Arcádia, pastoril e antropizada, ou ainda a natureza geométrica do classicismo – como os jardins do Palácio de Versalles, na França.

Foi com os românticos que a wilderness passou a ser valorada positivamente. A natureza selvagem passava a ser admirada pelas suas características pitorescas, de beleza e de sublimidade. As florestas, os grandes desertos, as montanhas, a vastidão das pradarias, os rios e o mar passaram a representar uma natureza transcendental, que estava além do artefato humano. Deus ou um processo evolutivo – a partir do momento em que Charles Darwin e Alfred Wallace lançaram a Teoria da Evolução - com a duração de bilhões de anos eram as forças responsáveis e refletidas nas paisagens naturais. Passava-se do negativo ao positivo, do demoníaco para o divino, da ausência de civilização para o interesse científico e a apreciação estética.

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