28 de julho de 2011

MOVIMENTO NOVA POLÍTICA NO DF: Carta Aberta de EX-MEMBROS DO PARTIDO VERDE DO DISTRITO FEDERAL (PV-DF)


Segue abaixo uma CARTA ABERTA elaborada por alguns de nós, EX-MEMBROS do Partido Verde do Distrito Federal (PV-DF), que juntamente com MARINA SILVA, decidiram pedir a desfiliação, visando reforçar o movimento da nova política que pretende dar continuidade ao processo iniciado na campanha eleitoral.


Saudações maduras.


ADOLPHO FUÍCA


Em 2009 alguns de nós se filiaram ao Partido Verde inspirados pela mobilização que convidou Marina Silva a liderar uma campanha presidencial junto com os Verdes. Outros, já filiados anteriormente, renovaram as energias com essa perspectiva. Acreditamos, naquele momento, que viríamos a fazer parte de um processo de construção coletiva de coerência programática e ideológica, do qual tanto se orgulham os Verdes no mundo todo. A candidatura de Marina Silva inspirou centenas de pessoas a se juntarem ao PV e tomarem as ruas fazendo a diferença na campanha presidencial.


As eleições mostraram que há um forte anseio de participação, principalmente dos jovens, além do desejo de mudar o modelo político hoje vigente visando ética e sustentabilidade na política. As eleições legaram também ao Partido Verde a oportunidade de se firmar no cenário nacional como a alternativa partidária mais comprometida com tais mudanças.


Passadas as eleições, entretanto, as direções nacional e distrital do Partido Verde fizeram sua opção por cerrarem fileiras na velha política. Ao não permitir a construção de processos internos democráticos, temendo a renovação, a maioria dos dirigentes do PV sinaliza que não há intenção de acompanhar o movimento nacional que afirmou nas urnas que deseja uma nova forma de fazer política. A burocracia partidária do PV não está preocupada em manter coerência entre discurso e prática.



O Partido Verde abriu mão de realizar sua transição democrática, consolidando suas estruturas organizacionais com processos democráticos para escolha dos Conselhos e das Comissões Executivas permanentes em todos os níveis. Não se pode querer ser o partido da nova política com a fragilidade de estruturas provisórias, alteradas a qualquer tempo, que geram insegurança para todos os dirigentes e filiados e dificultam a construção de ideais coletivos.


Sendo assim, depois de mais de um ano sem qualquer reunião da executiva do PV no Distrito Federal, tendo visto o partido assumir, sem qualquer debate interno ou proposta programática, espaços relevantes de definição de políticas públicas socioambientais no governo do Distrito Federal, constatamos que não há nem de longe a possibilidade de construir o partido aberto, democrático e de luta que desejamos. Permanecer no PV seria abrir mão de atuar politicamente à altura das exigências da atual conjuntura política. Para responder ao desafio de mudar o destino do Brasil e do planeta é preciso atuar com grandeza de propósitos, e isso é exatamente o que falta hoje aos dirigentes do Partido Verde.


Toda crise esconde uma oportunidade de crescimento. Lamentavelmente não vemos na direção do PV sequer a disposição para enfrentar esse impasse com vistas ao crescimento do próprio partido. Desta forma, nós, militantes por uma nova forma de fazer política que se coaduna com os desafios do desenvolvimento sustentável, não vemos outro caminho senão virar a página da história que nos levou ao PV. Mantemos assim a coerência e o sentido do que nos uniu que manteremos vivo em nossa militância política.


Andre Lima

Adolpho Fuíca

Henrique Moraes Ziller

Adriana Ramos

João Francisco

Juarez de Paula

Pedro Ivo Batista

Rafael Peixoto

Raissa Rossiter

Claudio Pádua

João Suender

Carlos Inácio Prates

Marcelo Lima Costa

Suzana Pádua

Wellington Almeida

26 de julho de 2011

De cada quatro pneus descartados no DF, apenas um tem a destinação correta

Sabe aqueles pneus que os motoristas deixam nas lojas especializadas, após trocar os velhos pelos novos? Pois é, as unidades devem ser encaminhadas a um armazém localizado no Setor P Sul, em Ceilândia. Lá, são recolhidos pela Associação Nacional da Indústria de Pneus (Anip), por meio de uma empresa terceirizada. Mas, no Distrito Federal, somente um em cada quatro pneus descartados, ou seja 25%, têm a destinação correta. Os demais geralmente vão parar no Lago Paranoá, Lixão da Estrutural ou permanecem com borracheiros, de forma irregular.


Segundo o Serviço de Limpeza Urbana do DF (SLU), cerca de quatro milhões de pneus são descartados em média por ano e 960 mil são armazenados no P Sul. Diretores do SLU afirmam que é função do órgão recolher todas as unidades encontradas em qualquer ponto do DF, mas nem metade é localizada.


O servidor público Diego Coelho tem carro e assim como muitos brasilienses não sabe o que é feito com os pneus deixados nas lojas especializadas. "Não sei como é feita a destinação das unidades usadas, jamais fui informado e não faço a mínima ideia". Coelho não é o único e o correiobraziliense.com.br conversou com vários motoristas que admitiram também não saber qual a destinação dos pneus usados. "Quando soube que de cada quatro pneus descartados apenas um vai para o local correto, achei um absurdo. Faltam políticas de conscientização", concluiu o servidor.


Uma loja especializada em pneus, localizada na quadra 513 sul, descarta cerca de 4800 unidades todo ano. Deste total, cerca de 20% voltam para os clientes e 80% são levados para Ceilândia. "Muitas pessoas fazem o serviço com a gente, mas não gostam de deixar os pneus aqui, pois acham que iremos revendê-los. Elas levam os usados para casa, os transformam em entulho e muitas vezes ajudam a proliferar doenças como a dengue", disse o supervisor do estabelecimento, Francisco Alvino de Oliveira.


A loja chegou a criar uma Declaração de Conhecimento de Destinação de Pneus usados. No documento, o cliente que não deixar o pneu na loja para ser descartado se compromete a dar uma destinação correta ao material. Para isso, há dicas do que deve ser feito e, além disso, todos os dados (do pneu e do cliente) são deixados no estabelecimento.


Políticas públicas

Segundo o diretor de Operações do SLU, Delival Lemos, a capital federal tenta implantar a política da "Logística Reversa", que deve ser totalmente feita até 2014, de acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, artigo 33. As regras estipulam que as lojas especializadas em serviços de pneus recebam unidades usadas e as devolvam para o fabricante. Assim, a indústria ficará responsável por fazer o descarte e a reciclagem do material recolhido. "Aqui no DF, por conta do poder aquisitivo dos moradores, pneus com meia vida [descartados com metade do tempo de uso devido] são trocados diariamente. Os núcleos de limpeza das cidades [13 no total] recebem e repassam todas as unidades ao armazém (de Ceilândia)", conta Lemos.


De acordo com o SLU, artesãos e borracheiros autorizados a receber pneus da Anip são credenciados, "pois, assim, conferimos se eles também dão uma destinação a pneus de forma a não poluir o meio ambiente", conclui o diretor de operações do órgão.


Já a Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal informou por meio de nota que "o DF não tem até hoje nenhuma política neste assunto". Além disso, explicou que "o Ministério do Meio Ambiente criou um grupo de trabalho e espera-se que até o fim deste ano haja políticas para tratar do tema, nacionalmente".


A pasta disse ainda que a implementação do Plano Distrital de Resíduos Sólidos está prevista por meio da coleta seletiva, aterro sanitário e políticas paralelas. Segundo a secretaria, haverá 100 ecopontos, modernização das usinas de lixo e outras ações. "A situação só será resolvida com políticas públicas e destinação eficiente dos resíduos sólidos", diz a nota.


Problemas à saúde

Para a técnica do Ministério do Meio Ambiente, Mirtes Boralli, o maior problema do descarte de pneus acontece quando eles são queimados. "O material é muito tóxico e nocivo à saúde. Quando ateiam fogo, a fumaça prejudica, e muito, o ar do local, além da respiração das pessoas". Mirtes disse ainda que "pneus acumulados proliferam a dengue, pois acumulam água. Além disso, podem cair em redes de esgoto, entupí-las e causar enchentes e demoram, e muito, para serem degradados no meio ambiente".


Sobre a forma de descartar os pneus, a técnica disse ainda que não é viável jogá-los em aterros sanitários. "A estrutura do local já está poluída e não tem condições de decompor um pneu. Portanto, quando vão parar lá, acabam poluindo mais ainda", completou.


Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br/app/noticia/cidades/2011/07/18/interna_cidadesdf,261705/de-cada-quatro-pneus-descartados-no-df-apenas-um-tem-a-destinacao-correta.shtml


25 de julho de 2011

Trocando o carro por transporte público vitalício


A empresa que administra o transporte público da cidade de Murcia, na Espanha, lançou uma ideia original para reduzir a poluição e os problemas de estacionamento e engarrafamento: oferece um passe vitalício em troca de um carro.

O cidadão interessado em se livrar do seu veículo - naturalmente legalizado, sem multas e em boas condições de uso - precisa apenas entrar em contato com a empresa pelo site. A Tranvía de Múrcia promete retornar "na maior brevidade possível".

A iniciativa de Murcia, que pelos mapas disponíveis na internet parece ser provida de um sistema de transporte público para lá de satisfatório, é mais uma na lista das cidades que tentam equacionar o bem-estar dos cidadãos e a sua vontade de ter carros.

Em Londres, o ex-prefeito Ken Livingstone criou o pedágio urbano, cobrado dos motoristas que trafegam pela zona central da cidade durante a cidade. Também aqui e em outras cidades europeias, foram criados esquemas de aluguel de bicicletas, na esperança de que o cidadão deixe o "poderoso" em casa e pedale.

São Paulo e Cidade do México criaram o rodízio de placas, para ficar em poucos exemplos. As opções são muitas, mas até agora, não tenho conhecimento de qualquer lugar em que o número de carros nas ruas esteja caindo.

No Brasil, muitos dizem que deixariam o carro em casa se tivessem alternativas decentes. É fácil falar, diante das péssimas condições do transporte público na maioria das grandes cidades. E se você morasse em Murcia, trocaria seu carro definitivamente por ônibus, bondes e trens?

Recanto das Emas se prepara para Programa Transporte Escolar por Bicicletas.


Cidade recebe campanha de mobilização para orientar sobre os cuidados no trânsito na relação motorista e ciclista.


Desde o dia 20 de julho o Recanto das Emas passa por uma ação educativa com a finalidade de informar a população da cidade sobre o Programa de Transporte Escolar por Bicicletas – “Caminho da Escola”, do Governo Federal, que será lançado no próximo mês.


Com o slogan “Ciclista, Eu protejo”, essa etapa tem por objetivo conscientizar os moradores da região para o cuidado no trânsito no uso de automóveis e sua interação com bicicletas. A campanha sugere o uso de sinais específicos indicativos para uso dos ciclistas nas vias e para conhecimento e respeito do motorista.


A iniciativa dos trabalhos relacionados ao uso de bicicletas deu origem à criação do Grupo de Trabalho de Mobilidade Urbana por Bicicletas no DF, composto pelas Secretarias de Governo, Educação, Transportes, Desenvolvimento Urbano e Habitação, Meio Ambiente, Esporte, Obras, Segurança Pública além do DER/DF, DETRAN/DF E NOVACAP.


As ações educativas no Recanto das Emas seguem o seguinte cronograma:

26/07

Hora

Atividade

Local

Unidade responsável

8:30

Ação Educativa de divulgação

Quadra 203

Detran/Secretaria de Governo/Secretaria de Educação

14:30

Ação Educativa de divulgação

Quadra 106

Detran/Secretaria de Governo/Secretaria de Educação

27/07

Hora

Atividade

Local

Unidade responsável

8:30

Ação Educativa de divulgação

Quadra 106

Detran/Secretaria de Governo/Secretaria de Educação

14:30

Ação Educativa de divulgação

Quadra 203

Detran/Secretaria de Governo/Secretaria de Educação

31/07

Hora

Atividade

Local

Unidade responsável

8:30

Passeio Ciclístico na Cidade

Entrada da Cidade/posto de gasolina

Detran/Secretaria de Governo/Secretaria de Educação/ONG Rodas da Paz

21 de julho de 2011

Por que viramos monstros no trânsito?

William Cruz adotou a bicicleta porque reconheceu que se transformava ao volante


Só em São Paulo, a polícia separa cerca de 70 brigas de trânsito por dia. Por que cidadãos comuns perdem a cabeça ao volante?

O analista de sistemas William Cruz, 37 anos, já recusou duas propostas de emprego porque teria que ir de carro. Não que ele não tenha habilitação. Mas, há cinco anos, não dirige a não ser em casos de extrema necessidade. A decisão foi tomada porque William percebeu que se transformava quando estava ao volante. 
“Cheguei a ser perseguido por um maluco com a arma para fora da janela e a perseguir alguns outros para me vingar de uma fechada”, diz o ex-motorista agressivo. “Dirigir me tirava do sério e me transformava em outra pessoa. Cheguei a ter ataques de fúria, aliviados com socos no volante e gritos de raiva com a janela fechada, por frustração de estar parado.”

Ele deixou o carro pela bike, e os sintomas passaram. “Dirigir em São Paulo é o caminho para a insanidade ou o infarto precoce”, afirma. “Quando comecei a usar a bicicleta na rua me curei disso, porque percebi o quanto as vidas fora do carro eram frágeis e o quanto aquele comportamento as colocava em risco.”

William não está sozinho e qualquer motorista nas grandes cidades pode comprovar isso – dentro ou fora de seu carro. Ao volante, perdemos a cabeça e fazemos coisas que jamais faríamos em juízo normal. De acordo com a Polícia Militar de São Paulo, 70 chamadas diárias são para resolver brigas de trânsito. Mas o que transforma cidadão em monstros ao volante?

A raiva vem da frustração e da falta de respeito pelos outros. É um estado emocional que vem como uma explosão na mente e no corpo”, diz Leon James, professor de psicologia da Universidade do Havaí que especializou-se em stress no trânsito. Ele explica que quanto mais um motorista fica remoendo um incidente no trânsito e pensando nisso, mais está predisposto a ter um ataque de fúria. “Eventos negativos no trânsito são o gatilho da sensação de raiva, que fazem o motorista ter a sensação de que a culpa é do outro, que o outro é sempre culpado por seu atraso ou erro”.


Raiva no trânsito é doença
Pode parecer que é só o jeito mais “pavio curto” de algumas pessoas, ou que o trânsito é assim mesmo, mas chegar ao ponto de brigar com desconhecidos no trânsito pode ser uma doença grave. “A maioria dos indivíduos agressivos no trânsito é portador de transtorno explosivo intermitente (TEI), segundo estudos internacionais”, diz a psicóloga Maria Christina Armbrust Virginelli Lahr. “O ambiente é um desencadeador.” De acordo com ela, cerca de 6% da população mundial sofre do transtorno. “A relação do TEI e com o trânsito é estudada há mais de 60 anos, pelo risco de saúde pública.”

De acordo com a psicóloga, as pessoas não procuram tratamento porque acham que é normal. “Mas essa agressividade afeta a vida delas, pode trazer prejuízos pessoais, profissionais”, afirma Maria Christina. “O agressivo se sente vítima de injustiça, tem incapacidade mental de lidar com frustração e não suporta ser criticado. Nunca houve tantos estímulos para o TEI se manifestar”, afirma a psicóloga. Para piorar, a sensação de anonimato no trânsito favorece o sentimento de hostilidade pelo outro.



Para ela, existem pessoas que não poderiam sequer ter carta de habilitação. “A avaliação psicológica do candidato é falha. O psicotécnico por si só não consegue identificar quem é apto a enfrentar o trânsito”, afirma. De quebra, quem comete infrações e se mostra incapaz de se integrar socialmente com seu veículo no trânsito com outras pessoas não é suficientemente punido. “Não tem contenção para essas pessoas, que se tornam uma arma contra ela e contra os outros”, diz Maria Christina.

Problemas de infra-estrutura
Mas o transtorno não acomete a todos que perdem a cabeça. Leon acredita que a direção agressiva é um mau hábito que tem cura. A raiva desproporcional que tira as pessoas do sério no trânsito é comum em grandes cidades e tem até uma expressão em inglês: “road rage”.

Diante de níveis alarmantes dessa doença social, São Paulo tem adotado medidas para minimizar caos no trânsito, como reduzir a velocidade das vias. Isso porque a forma como a cidade está organizada também faz diferença no gatilho da raiva: entre os fatores que Maria Christina elenca, está o mau estado de conservação das ruas e estradas, a falta de iluminação, a falta de controle dos agentes de trânsito, a negligência com os próprios erros, carros obstruindo os cruzamentos, a pressa. 

Há uma explicação antropológica também. “Ter uma infra-estrutura funcional e limpa faz você dirigir melhor. É como entrar na casa de uma pessoa: se é asseada e organizada, você é conduzido ao comportamento educado”, afirma o antropólogo Roberto da Matta, autor de “Fé em Deus e Pé na Tábua”, sobre o comportamento do brasileiro no trânsito.

O antropólogo acha absurdo dados como as 70 brigas diárias registradas pela PM. “Isso nos diz que o espaço público brasileiro precisa ser politizado, no sentido de uma tomada de consciência para esses comportamentos absurdos”, afirma. “Somos alérgicos a igualdade. O sinal vale para todos, no cruzamento existe uma regra para dar passagem. Mas não somos educados para obedecer isso. No Brasil, desobediência é um sinal de inferioridade, quem obedecia era o escravo. Quem manda não obedece. Numa sociedade democrática, todos mandam e obedecem.”

Autocrítica
Essa sensação de ser justiceira no trânsito já fez parte da vida da designer Priscila Moreno, 28 anos. Ela acumulou tantos pontos que perdeu a carteira em seis meses. “Brigava muito, com todo mundo. Adorava ‘disciplinar’ os outros, impedindo ultrapassagens pela direita, por exemplo.” Ao mesmo tempo, abusava da velocidade quando não estava com o filho a bordo. Priscila bateu o carro da mãe três vezes e duas o do ex-marido. “Nunca feri ninguém por sorte”, diz. Priscila ainda é apaixonada por velocidade, mas trocou as quatro rodas por duas sem motor. Agora, ela policia os próprios comportamentos e não esquece que tem um filho para criar. “Comecei a fazer terapia também.”

Os especialistas são unânimes: falta olhar para o próprio comportamento. É como se a culpa fosse sempre do outro, e isso justificasse o comportamento agressivo. “Numa sociedade liberal e democrática, você trata o outro como gostaria de ser tratado”, afirma da Matta. Ele explica que por trás de frases como “mulher no volante, perigo constante”, ou “só podia ser um velho mesmo”, estão estereótipos que precisam ser discutidos e desmanchados. O brasileiro também tem uma relação enviesada com o espaço público, e não sabe se comportar com o coletivo. “É uma terra de ninguém onde existe uma disputa para hierarquizar”. Como é impossível saber quem está atrás do volante do lado, por via das dúvidas é melhor evitar a briga. 


20 de julho de 2011

Estrangeiros contam como veem e o que estranham no cotidiano da cidade

Encarar o transporte público coletivo na capital da República não é uma tarefa fácil para o brasiliense. Para um estrangeiro, então, o percurso pode se tornar ainda mais caótico. Logo que chegou a Brasília, a americana Vanessa Avila, 23 anos, sentiu na pele as dificuldades em circular de ônibus pelas avenidas da cidade. Além da barreira do idioma, a jovem enfrentou transtornos para compreender o itinerário da viagem. Por várias vezes, acabou perdendo a condução para o trabalho, na Esplanada dos Ministérios, indo parar na Rodoviária do Plano Piloto. A primeira impressão do terminal foi de medo. “É assustador. Parece que ocorrem muitos crimes por aqui”, expôs a americana, ao percorrer uma das plataformas da Rodoviária na noite da última quarta-feira, a pedido do Correio. “A diversidade de pessoas é muito grande. Ao mesmo tempo em que há alguns trabalhando, há outros desocupados de quem não sabemos o que esperar”, preocupou-se.


O sistema de transporte também é alvo de críticas da australiana Sonja Basic, 29 anos, na cidade há um mês. Segundo ela, para embarcar nos ônibus de Brasília. foi preciso, primeiro, aprender a correr. Sonja diz ter preferência por andar a pé, mas considera “impraticável” a cidade. “Os locais são muito distantes. Eu venho de um lugar desenhado para promover o encontro de pessoas em um determinado ponto. Aqui parece exatamente o contrário”, pontua. Sonja faz mestrado na Inglaterra, onde reside atualmente, e se assusta com o fato da capital do Brasil ser mais cara que Londres. “Foi uma surpresa para mim. Pensei que, vindo para um país em desenvolvimento, as coisas seriam mais baratas.” Apesar das dificuldades, Sonja afirma estar se adaptando. Desde que chegou, ela faz aula de capoeira e atribui as novas amizades ao calor do povo brasileiro. O Correio visitou um dos treinos de Sonja na noite de ontem, na 712 Norte.


Assim como Vanessa e Sonja, mais de 16 mil estrangeiros residem no Distrito Federal atualmente, segundo um levantamento do Ministério da Justiça, o que faz com que a cidade seja alvo de um olhares diferenciados, que transcendem visões sobre a riqueza arquitetônica e as discussões políticas. Segundo Amália Raquel Peres, psicóloga especialista em consumidores estrangeiros, Brasília está despreparada tanto para atender quem busca de moradia na cidade quanto quem vem visitá-la. Segundo ela, a visão do público externo só irá mudar quando o governo for capaz de transformar a realidade.


Dificuldades

“Uma das maiores queixas deles (estrangeiros) realmente é o transporte. Esse é o primeiro gargalo em Brasília. Algumas pessoas demoram duas horas e meia para chegar em casa, quando isso é impensável em qualquer outro lugar do mundo. Não adianta colocar muita gente no aeroporto — como acontecerá na Copa do Mundo — se não tiver como escoar essa demanda”, explica Amália. Outro problema apontado pela especialista diz respeito ao entretenimento na cidade: “O estrangeiro imagina que irá chegar ao Brasil e se deparar com atividades culturais em toda parte, como por exemplo, rodas de capoeira. Mas isso não acontece, principalmente, em Brasília. Isso choca, de certa forma, esse público. Falta informação”.


O belga Ange Ihirwe, 29 anos, já morou em extremos do planeta. Em Ruanda e Uganda, conheceu dificuldades da pobreza e problemas de países subdesenvolvidos, mas afirma nunca ter lidado com tanta burocracia como na capital do Brasil. “Para tirar dinheiro, para morar, a pessoa enfrenta muitas dificuldades. Demorei uma semana para achar uma casa. Tive que ficar hospedado em um albergue enquanto isso. Até achar um local que entrasse no meu orçamento e preencher a documentação, demorou muito. Depois de muitos problemas, achei um lugar para morar no Cruzeiro.”


Movimento na capital

Dados do Ministério do Turismo mostram que, em 2010, Brasília recebeu cerca de 22 mil turistas europeus, com destaque para os portugueses, e 6 mil turistas norte-americanos, com predomínio dos originários dos Estados Unidos. Para a Copa do Mundo de 2014, o GDF pretende atrair em torno de 95 mil turistas internacionais.


Centro da política social

As percepções dos estrangeiros acerca da Brasília não se concentram apenas em problemas pontuais. A capital do Brasil também é vista com bons olhos por Vanessa, Sonja e Ange no que diz respeito à promoção de políticas sociais. Os três trabalham no Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), localizado na Esplanada dos Ministérios. A entidade é a única ligada à Organização das Nações Unidas (ONU), com sede no Brasil, a promover oportunidade de aprendizado sobre o assunto para países em desenvolvimento. Poucas pessoas, entretanto, têm conhecimento sobre o trabalho desenvolvido no local. A partir de experiências bem sucedidas de inclusão social adotadas tanto no Brasil quanto em outros países emergentes, o conhecimento é repassado a outras nações. O IPC-IG já trabalhou com governos de mais de 50 países.

Para Vanessa Avila, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva promoveu várias inovações na área social, o que trouxe grande reconhecimento internacional para o país. “O Banco Mundial olha muito para o Brasil como referência em programas sociais como o Bolsa Família. O país é um ator muito importante no debate sobre o desenvolvimento. Isso foi uma das coisas que me fez vir para cá”, avalia. “Além disso, o Brasil tem uma das economias mais fortes do mundo e é cada vez mais atuante em fóruns e mecanismos internacionais.”

Nesta época do ano, o IPC-IG recebe pesquisadores e visitantes de diversos países, o que contribui para fazer do órgão o setor mais internacional da Esplanada dos Ministérios. O IPC-IG está diretamente ligado ao Grupo de Pobreza do Escritório de Políticas para o Desenvolvimento (BDP) do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud), situado em Nova York (EUA), e possui um conselho diretivo composto por representantes das Nações Unidas e do governo brasileiro.


Fonte: Correio Braziliense

19 de julho de 2011

Maioria dos parques públicos do DF têm problemas, como a falta de estrutura

Em Águas Claras, as queixas mais comuns dos moradores são relacionadas ao mato alto próximo à pista de caminhada e cooper


Os parques públicos espalhados pelo Distrito Federal são uma das opções de diversão para quem está de férias e não vai sair de Brasília. No papel, são 68, mas na prática, a maior parte não existe. Dos acessíveis à população, muitos apresentam problemas de infraestrutura ou estão abandonados. O Correio percorreu nove deles e, em seis, o lazer deu lugar ao descaso. O Instituto do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos (Ibram) garante que tem verba para melhorias e, até o fim do ano, promete a revitalização de pelo menos 15. O Três Meninas, de Samambaia, saiu na frente. Passou por limpeza e teve o mato cortado no início do ano. Ontem, o governo local anunciou obras para o de Uso Múltiplo da Asa Sul, localizado na Quadra 614 (veja reportagem na página 35).


O Parque Olhos D’Água, na Asa Norte, do Lago do Cortado, em Taguatinga, e o Jequitibás de Sobradinho também estão na lista dos selecionados para as reformas que ocorrerão até dezembro. Segundo o presidente do Ibram, Moacir Bueno, o critério de seleção segue um estudo feito pelo órgão. “Analisamos a distribuição geográfica, o acesso à população, o tamanho da área, além de outras particularidades”, informa.


Para o Parque da Cidade, o administrador, Paulo Dubois, promete melhorias graduais. Segundo ele, a primeira etapa foi a retirada de 60 toneladas de lixo e entulho da Praça das Fontes. Depois, os focos serão a construção das ciclovias e a revitalização da piscina com ondas, abandonada há 14 anos.


Outros lugares do parque se destacam pelo bom estado de conservação, como os brinquedos do parquinho Ana Lídia, o castelinho de areia e as churrasqueiras. A dona de casa Odinéa Cunha de Oliveira, 67 anos, moradora do Guará, costuma levar o neto para brincar no parquinho. Reformado, o espaço tornou-se um bom lugar para o menino aproveitar as férias escolares. “Aqui é muito bom, agradável, tem muita sombra para a gente ficar enquanto as crianças se divertem nos brinquedos. Sem contar que é muito seguro, nunca tivemos nenhum problema”, elogia Odinéia.


Segurança

O Parque Recreativo do Gama, conhecido como Prainha, foi palco de diversão para muitas pessoas, mas há 10 anos está desativado. Na piscina, também se vê animal morto. No fim da Asa Norte, outra mostra do descaso. O Parque Burle Marx foi criado em 1990, mas até hoje não existe nada além de mato. No Vivencial do Lago Norte, restos de construções e objetos mal-cuidados também deixam à mostra o abandono no lugar. “Uma vez, quase houve um estupro aqui. Um dos vigias que impediu”, conta o vigilante Rumenigg de Carvalho.


De um modo geral, os principais problemas encontrados nos parques são mato alto e construções abandonadas ou desativadas. “Dá muita pena ver a situação atual daqui. Esse parque fez muita gente feliz e hoje está largado”, lamenta o vigilante do Prainha, Ernesto Ferreira de Moraes, 56 anos, pernambucano que cuida da segurança do espaço desde 1986.


As estruturas precárias provocam insegurança. No Parque da Cidade, por exemplo, a piscina desativada tornou-se abrigo aos usuários de crack, que utilizam o local como banheiro. “Fechamos há uma semana os acessos à piscina porque estava virando ponto de moradores de rua e usuários de droga”, destaca o administrador, Paulo Dubois.


Os elogios dos frequentadores ficam para o Taguaparque, em Taguatinga Norte, o Parque Olhos D’Água e o de Águas Claras. “Esse parque era tudo que os moradores de Taguatinga precisavam”, diz a pedagoga Vera Lúcia dos Santos, 52 anos, sobre o Taguaparque.

Fonte: Correio Braziliense


18 de julho de 2011

MOBILIDADE URBANA: um pedal com David Byrne

Ex-vocalista da banda Talking Heads mostra intimidade com a bicicleta durante evento em SP

Depois de participar da FLIP, O Festival Literário de Paraty, onde promoveu o seu livro 'Diário de Bicicleta", David Byrne, criador e vocalista da extinta banda "Talking Heads" , passou por São Paulo onde promoveu e participou do Fórum: Cidades, Bicicletas e o Futuro da Mobilidade.

O livro de Byrne é agradável. O autor relata sua experiência de observar as relações entre as pessoas em diversas cidades do mundo, segundo a ótica de quem pedala. Ele foca o ser humano e a arquitetura das cidades.

Sua visão intuitiva é simples.

Ele descreve com clareza o comportamento viciado das sociedades que constroem espaços urbanos totalmente vazios de pessoas para dar espaço a circulação de carros.

Byrne é mais um exemplo de que, somente quem pedala e caminha pelas cidades consegue entender esse problema na pele e criticá-lo, usando argumentos que desmontam os dogmas instituidos e aceitos sem nenhum filtro pelos carrocratas.

Aqueles que estão presos em seus carros não conseguem dar esse passo. Byrne amplia a forma de abordar o tema de um ponto de vista simples e humano.

Perguntei a ele quando a bicicleta lhe deu esse “clique”, a chave para compreender as cidades do mundo e ele situou: “Foi em 2006, pedalando em Nova Iorque. Se podemos pedalar na boa por lá, por que não o resto do mundo?”

Escocês, mudou-se para os Estados Unidos e mora em Nova Iorque desde os anos 70. Assistiu o auge da deteriorização da cidade, a violência urbana, o assassinato de Lennon em 1980 e a política de “tolerância zero” instituida pelo prefeito Rudolph “Rudy” Giuliani a partir de 1990.

Em poucos anos Rudy Giuliani baixou em 58% os crimes da cidade e em 65% os latrocínios, com isso os cidadãos voltaram a usar o transporte público, mas é preciso lembrar que desde sempre a elite novaiorquina divide metrô e ônibus numa boa com a classe trabalhadora.

Em 1989 pedalei pela primeira vez em Nova Iorque. A cidade na época vivia um medo generalizado de assaltos, era tida como avessa a ciclistas, mas eu, oriunda de São Paulo senti-me em casa.

Uma ciclista paulistana calejada não se intimida com a violência, evita encrenca e surfa na boa entre carros e táxis a te expremer na guia. O diferencial é que os motoristas americanos não saem impunes quando atropelam.

A “tolerância zero” resgatou a auto estima do novaiorquino e aumentou sensivelmente a quantidade de turistas na cidade. Sem falar que Nova Iorque sempre foi uma cidade de muitas bicicletas, dominada por bike messengers, aqueles que reinventaram as bikes fixas.

De 2000 para cá a cidade ganhou 400 km de ciclovias. Sem falar em novos parques como o High Line Park. Em 2006, ano do “clique” de Byrne, Nova Iorque acabava de ganhar uma ciclovia que circundava a Ilha de Manhattan, a ciclofaixa da Quinta Avenida ao mesmo tempo que coibia (e ainda coibe) as manifestações da Critical Mass.

Pudemos acompanhar David Byrne em um pedal de uns 8 km entre o Hotel Unique e o Sesc Pinheiros, com algumas voltinhas pela Vila Madalena. Byrne pedala de verdade, surfa entre carros, não se intimida com as “finas educativas” de “mautoristas” e sobe ladeiras, sem perder o fôlego.

O Sesc Pinheiros lotou. 700 pessoas sentadas e umas 150 bicicletas estacionadas do lado de fora.

O Fórum teve as participações de David Byrne, Arturo Alcorta do www.escoladebicicleta.com.br , Eduardo Vasconscellos e Marcelo Branco atual Secretário dos Transportes, diretor da CET e da SPTrans e mediação de Paulina Chamorro da Estadão ESPN.

David abriu com uma palestra que ilustrou com fotos a arquitetura e a loucura em que as sociedades viciadas em carros se transformou. Um resumo muito curto e superficial de seu livro. Mas deixou esperanças aos ciclistas paulistanos, descreveu nossa cidade como ciclável e com gente nas ruas.

Alcorta apontou a falta de participação do brasileiro nas questões de cidadania e os perigos de nossa bipolaridade, a não existência intermediária entre “o contra ou o favor”.

Vasconscellos mostrou a falta de equidade nas cidades do Brasil, a desigualdade na política pública, foi aplaudido quando pediu a urgente redução da velocidade dos veículos nas ruas e cravou os pés de todos ao chão, quando nos lembrou que em Brasília, na mais alta classe política do país, aquela que decide os nosso rumos, a mobilidade em bicicleta está totalmente fora dos planos.

Marcelo Branco repetiu a frase guia dos cicloativista “compartilhar as ruas”. Afirmou que a CET que ele dirige é mesmo voltada apenas aos veículos e não ao cidadão, a dificuldade de se mudar aquilo que ele chama de “cultura” e eu de preconceito. O Secretário dos Transportes de SP finalizou com a exposição da Ciclorrota do bairro do Brooklin que será inaugurada na próxima semana como uma grande vitória de sua gestão.

De fato a Ciclorrota é uma quebra de paradigma, pois trata-se da primeira sinalização da Cidade de São Paulo que inclui a bicicleta nas ruas, a circulação é compartilhada com os automóveis e a velocidade está limitada a 30 km/h.

Já pedalei na Ciclorrota do Brooklin, aprovei, veja o vídeo: Sinalizar a presença de ciclistas nas ruas é mais uma das obrigações da Secretaria de Transportes, artigos 21 e 14 do CTB.

http://www.youtube.com/watch?v=8C4Vkn-OjFk&feature=share