17 de maio de 2017

Guará Sustentável

Por Adolpho Fuica Kesselring

Olá, amigos! Nesta edição darei destaque às estações ecológicas do Distrito Federal, as chamadas unidades de conservação de proteção integral, como a reserva biológica junto ao Parque Ezechias Heringer. O Distrito Federal é protegido por cinco reservas biológicas: além do Guará, existe a do Lago Descoberto, do Gama, do Cerradão, do Jardim Botânico, e a de Contagem, em Sobradinho. Todas elas têm uma importância muito grande. Por isso, gostaria de compartilhar a descrição da reserva do Guará, de modo que nosso leitor entenda como essas áreas são indispensáveis para nosso convívio com a natureza, da melhor forma possível.

Dentre todas, podemos dizer que a reserva biológica do Guará é uma das mais importantes unidades de conservação de proteção integral, onde temos dezenas de espécies que dependem daquele local para sobreviver. Por isso é que se faz necessário a retirada de qualquer pessoa ou estrutura que esteja interferindo direta ou indiretamente em nossa reserva. Além das nascentes que ali se encontram, uma das maiores veredas urbanas do Brasil e do mundo se estende por mais de sete quilômetros na área. É possível avistá-la à direita de quem passa no viaduto do SIA, um “lastro” de imponentes Buritis. É justamente naquela região que surgem as nascentes que formam o córrego do Guará. A linha do metrô divide a reserva do Parque Ecológico Ezechias Heringer.

Para se ter uma ideia da extensão de todo esse recurso hídrico nesta estação ecológica, estas águas percorrem mais de 10 quilômetros, desaguando no zoológico, atrás da Candangolândia. Infelizmente, foi comprovado, nos anos de 2014 e 2015, que esse trecho final está altamente poluído. Neste ano de 2017, a partir de fevereiro até dezembro, nós da Sociedade dos Amigos do Parque e Reserva Ecológica do Guará (Sapeg) vamos buscar parcerias para fazer essa verificação novamente, com uma coleta mensal de água para análises, nestes três pontos: próximo ao Lúcio Costa, no Parque do Guará e onde deságua o córrego, no zoológico.

Isso vai demonstrar que a água das nascentes é maravilhosa, só que no final de seu percurso ela fica totalmente contaminada, suja e imprópria para uso. Mas temos que observar que essa água pode, daqui a alguns anos, abastecer todo o Guará e o Núcleo Bandeirante, por conta do grande volume que brota das veredas.

Com toda a crise hídrica que estamos vivendo no Distrito Federal, de racionamento e pouca reposição nos grandes reservatórios, as estações ecológicas são fundamentais para a questão do consumo de água e para os animais e vegetação que nela sobrevivem. Justamente por isso que os moradores que fazem reformas e constroem jamais podem deixar que os resíduos das obras sejam levados para local incerto. Os restos de tinta e o cimento descartados contêm elementos químicos perigosos, metais pesados, que causam câncer, mutagenicidade, vários problemas à saúde.

Vamos pensar bem como estamos descartando rejeitos e resíduos, pois esse material pode atingir nossas unidades de conservação e proteção integral. Temos que ter em mente que o Guará é, sim, uma grande reserva de fauna e flora. E cada um que se preocupar em mantê-la em seu estado natural vai contribuir muito para nossa qualidade de vida.

Um abraço!




Março: Um mês de reflexão sobre as águas e celebração das mulheres

Prof°. Adolpho Fuica

Olá, leitores. Esse mês de março estaremos abordando aspectos da política nacional dos recursos hídricos, que nasce em 1997. Até hoje, pouco se avançou nesta política pública, assim como a participação da comunidade. É nessa época que criaram-se os Conselhos das Bacias Hidrográficas. No Distrito Federal, um destes conselhos é o do Lago Paranoá, mas muitos ainda estão distantes de se tornarem realidade.
Março também é o mês das águas e é comemorado o Dia Internacional das Mulheres, trazendo grande reflexão de nossos hábitos e costumes. Isso porque, a sustentabilidade começa dentro de cada um de nós. Muitas das vezes percebemos a existência somente da água que consumimos, quando tomamos banho e escovamos os dentes, por exemplo. Mas existe ainda a água que não “vemos”, mas ela está em cada produto in natura e industrializado. Para trazer um bife para nossa mesa, é preciso água para engordar o boi. Para as plantações de feijão e milho são necessários milhões de litros de água. E mesmo para a fabricação de tecidos e roupas é preciso uma grande quantidade de água.
Hoje, os pesquisadores chamam esse consumo de “água virtual”. Ou seja, é aquela que você não vê mas está em cada produto e serviço no processo de produção até chegar ao consumo. Então temos que pensar, hoje, o que eu podemos fazer diante disso.
O que eu posso fazer?
O momento, aproveitando que estamos no mês das águas, é refletir qual a parte de cada um neste cenário de consumo desse recurso natural tão caro para nossa sociedade. Em casa, por exemplo, tem o desafio de captar a água da chuva e usar durante o ano, que no Distrito Federal, inclusive, é marcado por três meses de seca. Você já pensou em diminuir a pressão nas torneiras de sua casa? Já avaliou a quantidade de embalagens de produtos que compra no supermercado todas as semanas?
Este é o momento para que cada um de nós reflita o que consumimos, principalmente aqueles que consomem muita água para chegar até você. Isso pode passar desapercebido, mas nós cidadãos do bem, que pensamos na sustentabilidade de nosso território, é chegada a hora de fazermos interpretação individual: que produtos estou trazendo para dentro de minha casa?
Cabe aqui lembrar da legislação federal e distrital que trata deste aspecto de nossas vidas. Hoje o Brasil vive uma crise hídrica muito complicada, e o Distrito Federal é o berço de muitas nascentes d’água no país. A política nacional de recursos hídricos vem fazer essa sistematização destes recursos e uma adequação a essas diversidades físicas, biológicas, demográficas, econômicas, sociais e culturais das mais diversas regiões do país.
Veja então que temos a possibilidade de formação dos conselhos de bacias hidrográficas e que devemos fazer parte deles. Esses conselhos podem ser formados especificamente para o território onde moramos. E aqui faço uma observação: se formos beber água de origem em local próximo de onde moramos, será que esse reservatório teria quantidade e qualidade para nos abastecer? Penso que futuramente uma das saídas para essa questão no Distrito Federal serão os pequenos córregos e mananciais servindo a populações menores. O impacto ambiental, o retorno e o gasto com essas obras são muito menores, haja visto o que a Caesb tem feito no córrego do Bananal.
Na estação ecológica do Jardim Botânico existe uma mini-captação de água com capacidade de atender mais de 200 mil pessoas. Para os moradores do Varjão, São Sebastião, Condomínio Mangueiral, Jardim Botânico, Itapoã, fica a pergunta: será que eu posso beber dessa água? Será que o desperdício pode afetar esse manancial? O que eu posso fazer perto da minha casa para que essa água continue de qualidade e futuramente tenha assegurada sua captação. É um desafio geral!
Vamos nos organizar para defender nossas nascentes, os nossos córregos, vamos conhecer mais o que nos cerca.
Homenagem
Gostaria de prestar minha homenagem às mulheres, que trazem a vida para o mundo, com uma relação delas com a água. Todos nós, no ventre das mães, começamos a vida em bolsas cheias de “água”. Quando nascemos e deixamos esse ambiente entramos em pânico, mas as mães nos afaga com o leite materno, que é uma “água” sagrada, que todas as crianças deveriam tomar no mínimo por um ano de suas vidas.
O leite materno nos dá a imunidade, por isso as mulheres são comparadas às Veredas, de onde nascem mais vida, onde há espécies como o Buriti.


O Buriti, a mãe da água



Cientificamente conhecida como Mauritia Flexuosa, o Buriti é uma espécie simbólica para a população e povos do Cerrado, porque é uma árvore que tem um uso cultural, medicinal e artesanal, ou seja, pode ser considerada a “Mãe da Água”. Sempre em terrenos argilosos e próximos às águas, onde elas estiverem é possível encontrar água, mesmo e época de seca. Cavando 20 ou 30 centímetros onde houve Buriti, a água minará límpida e maravilhosa.
Desta forma, a Vereda sempre foi a parte central do Cerrado, onde estão nossas nascentes. O Buriti imponente, aquela palmeira maravilhosa, com cachos e frutos maravilhosos, podendo chegar a 30 ou 40 metros, de cinco a oito folhas gigantes, com quatro metros de envergadura, pode ser aproveitado o talo, o caule, o fruto, a seda, a palha, é uma dádiva para os povos do Cerrado, um grande símbolo da luta.
Problemas das veredas é que por muitos anos fizeram queimadas onde há essa vegetação para renovar pastagens.
O Buriti tem um teor nutricional fabuloso, Sua polpa é um energético rico em betacaroteno, vitamina A e C, fibras, gorduras boas, Cálcio e Fósforo, principalmente rico em ácidos graxos, o que se metaboliza no corpo e forma a vitamina D. Sembereba, polpa, leite e açúcar mascavo, energético
Um produto do Cerrado que também poderia contribuir com a merenda escolar.
Receita
Arroz com Buriti e ervas
Ingredientes
1 xícara de chá de arroz
2 dentes de alho
4 xícaras de chá de água
1 xícara de chá de Buriti (massa)
1 colher de café de alecrim
1 colher de café de manjericão
3 ou 4 sementes de cardamomo
2 colheres de óleo de Buriti ou Baru
1 colher de sobremesa de açafrão
Sal grosso
Modo de preparo
Em uma panela de barro ou de ferro, esquente o óleo e acrescente o alho amassado, deixe dourar e acrescente o açafrão, arroz, Buriti, alecrim, manjericão, cardamomo e sal. Deixe cozinhar em fogo baixo por 1 hora e meia.

Fonte: Rede Sementes do Cerrado