3 de agosto de 2011

BRASÍLIA

VORACIDADE SEM LIMITES DO GDF PELA RECEITA DA VENDA DE IMÓVEIS DENTRO E FORA DO PLANO PILOTO COLOCA EM RISCO PROJETO DE LUCIO COSTA E QUALIDADE DE VIDA DOS BRASILIENSES

Por Chico Sant’Anna, publicado originalmente no jornal Brasília247

A administração Agnelo/Filippelli do GDF, na saga de conseguir recursos, parece ter sido inoculada com o vírus da especulação imobiliária. A receita parece ser lotear, lotear e lotear, vender, vender e vender terrenos. Nem as linhas cinquentenárias do Plano Piloto parecem ser imunes a esta sanha desenfreada.

As últimas manchas verdes da cidade estão cedendo espaço ao concreto. Quem tiver a oportunidade de buscar na internet recente imagem do Plano Piloto tirada do espaço poderá verificar que o formato de avião peculiar do projeto de Lúcio Costa está virando um quadradão disforme e cheio de luzes.
Sem nem entrar na polêmica do Noroeste, chamo a atenção às mais recentes iniciativas imobiliárias do DF. De um lado, temos a expansão do Sudoeste, com a construção de mais uma dúzia de prédios à beira do Eixo Monumental com as suas seis faixas de rolamento já tomadas pelo trânsito. Do outro, a construção de um novo setor hoteleiro norte, entre o autódromo e o atual SHN. Um maciço de prédios ocupará o lugar que hoje serve de moldura verde às vias da região.

Nas entrequadras da Asa Sul, leio no jornal, que o GDF desistiu de desapropriar os terrenos de esquina das comerciais, dando sinal verde às construtoras. E na Asa Norte, para meu espanto, vejo que uma comunidade nasceu no Facebook para salvar o Parque Olhos D’Água. Pelos informes que correm nas redes sociais, o GDF licitou uma grande área contigua ao Parque para a construção de mais um centro comercial. Só um pequeno detalhe teria sido esquecido: na área existem nascentes que abastecem de água o parque e que com a construção, certamente serão aterradas, como aconteceu, em vários casos, em Águas Claras. Por sinal, Águas Claras já poderia mudar de nome, pois lá não mais se vê nenhum manancial brotando do chão.

Setor Catetinho

É também no ciberespaço que percebo que uma decisão já foi tomada, sem que a população soubesse, quanto ao destino do chamado Setor Catetinho: uma área de700 hectaresque vem sendo alvo de cobiça de políticos e imobiliárias. No passado, o local foi alvo de litígio com Luiz Estevão – que creio dispensa apresentações. Ele alegava ser dono da terra. Depois, no final dos anos 90, o governo Cristovam Buarque cogitou em lá construir uma cidade do porte do Sudoeste, para 70 mil pessoas. O projeto só não foi adiante, pois a gleba rural havia sido dada pelo governo Roriz como garantia de pagamento de um empréstimo do BNDES obtido para a construção do metrô.

Nas últimas eleições, um candidato ligado às cooperativas habitacionais, algumas suspeitas, baseou sua campanha eleitoral em destinar o local para cem mil novas moradias populares. Ainda bem que ele não foi eleito, embora estivesse na coligação da “Turma do Agnelo”.

O candidato Joaquim Roriz prometeu lá fazer a “cidade da saúde”, uma espécie de super setor hospitalar para o Distrito Federal. Clínicas, hospitais, consultórios – todos particulares, é claro – seriam instados a se instalar no local. Neste debate eleitoral, apenas o Psol propôs transformar a área, que já é de permanente proteção ambiental – no local existem nascentes que abastecem o Lago Paranoá – em um parque ecológico e vivencial. Algo semelhante ao Parque da Água Mineral, com áreas para lazer e áreas de total preservação. Seria um dos maiores parques ambientais urbanos do Brasil.

Percebo agora, que todos estavam ingenuamente viajando em suas idéias. O Setor Catetinho, já está loteado, quem me revelou isso foi o Google Maps. Basta entrar neste programa de localização, pedir a visão satelital do Distrito Federal, fechar um pouco o zoom, para verificar que o triângulo formado pelas DFs 001, 003 e 065 já tem projeto urbanístico com ruas, avenidas e quadras definidas. Segundo o Google, tudo está planejado.
O projeto prevê dois grandes eixos centrais, assim tipo Esplanada dos Ministérios, e treze quadras – será em homenagem ao número da legenda do PT? – a maioria de formato retangular. De cada lado destes eixos centrais surgem quatro grandes vias que fazem a interligação ao centro do Setor Catetinho.

Mas quem terá feito tal projeto urbanístico? O Google, algum hacker, um marciano ligado às imobiliárias? Ou será que o GDF já tem uma decisão secreta de como ocupar aquela área e encomendou um projeto urbanístico, antes mesmo de moradores da redondeza serem ouvidos, como manda a lei? O Plano Diretor de Ordenamento Territorial, alvo de investigações do Ministério Público, contempla esta nova cidade satélite para o Distrito Federal? E como e porque o Google Maps teve acesso a este projeto?

As perguntas são muitas e angustiantes. A área já é alvo de um intenso trânsito, com mais de um milhão de moradores morando no Gama, Santa Maria, Park Way e cidades do Entorno Sul goiano. O transporte coletivo é ineficiente. O sistema de água é falho, a energia cai a qualquer raio, mas isso são meros detalhes. O importante para o GDF, como dissemos no início, é lotear, lotear e lotear, vender, vender e vender terrenos.

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