18 de julho de 2011

MOBILIDADE URBANA: um pedal com David Byrne

Ex-vocalista da banda Talking Heads mostra intimidade com a bicicleta durante evento em SP

Depois de participar da FLIP, O Festival Literário de Paraty, onde promoveu o seu livro 'Diário de Bicicleta", David Byrne, criador e vocalista da extinta banda "Talking Heads" , passou por São Paulo onde promoveu e participou do Fórum: Cidades, Bicicletas e o Futuro da Mobilidade.

O livro de Byrne é agradável. O autor relata sua experiência de observar as relações entre as pessoas em diversas cidades do mundo, segundo a ótica de quem pedala. Ele foca o ser humano e a arquitetura das cidades.

Sua visão intuitiva é simples.

Ele descreve com clareza o comportamento viciado das sociedades que constroem espaços urbanos totalmente vazios de pessoas para dar espaço a circulação de carros.

Byrne é mais um exemplo de que, somente quem pedala e caminha pelas cidades consegue entender esse problema na pele e criticá-lo, usando argumentos que desmontam os dogmas instituidos e aceitos sem nenhum filtro pelos carrocratas.

Aqueles que estão presos em seus carros não conseguem dar esse passo. Byrne amplia a forma de abordar o tema de um ponto de vista simples e humano.

Perguntei a ele quando a bicicleta lhe deu esse “clique”, a chave para compreender as cidades do mundo e ele situou: “Foi em 2006, pedalando em Nova Iorque. Se podemos pedalar na boa por lá, por que não o resto do mundo?”

Escocês, mudou-se para os Estados Unidos e mora em Nova Iorque desde os anos 70. Assistiu o auge da deteriorização da cidade, a violência urbana, o assassinato de Lennon em 1980 e a política de “tolerância zero” instituida pelo prefeito Rudolph “Rudy” Giuliani a partir de 1990.

Em poucos anos Rudy Giuliani baixou em 58% os crimes da cidade e em 65% os latrocínios, com isso os cidadãos voltaram a usar o transporte público, mas é preciso lembrar que desde sempre a elite novaiorquina divide metrô e ônibus numa boa com a classe trabalhadora.

Em 1989 pedalei pela primeira vez em Nova Iorque. A cidade na época vivia um medo generalizado de assaltos, era tida como avessa a ciclistas, mas eu, oriunda de São Paulo senti-me em casa.

Uma ciclista paulistana calejada não se intimida com a violência, evita encrenca e surfa na boa entre carros e táxis a te expremer na guia. O diferencial é que os motoristas americanos não saem impunes quando atropelam.

A “tolerância zero” resgatou a auto estima do novaiorquino e aumentou sensivelmente a quantidade de turistas na cidade. Sem falar que Nova Iorque sempre foi uma cidade de muitas bicicletas, dominada por bike messengers, aqueles que reinventaram as bikes fixas.

De 2000 para cá a cidade ganhou 400 km de ciclovias. Sem falar em novos parques como o High Line Park. Em 2006, ano do “clique” de Byrne, Nova Iorque acabava de ganhar uma ciclovia que circundava a Ilha de Manhattan, a ciclofaixa da Quinta Avenida ao mesmo tempo que coibia (e ainda coibe) as manifestações da Critical Mass.

Pudemos acompanhar David Byrne em um pedal de uns 8 km entre o Hotel Unique e o Sesc Pinheiros, com algumas voltinhas pela Vila Madalena. Byrne pedala de verdade, surfa entre carros, não se intimida com as “finas educativas” de “mautoristas” e sobe ladeiras, sem perder o fôlego.

O Sesc Pinheiros lotou. 700 pessoas sentadas e umas 150 bicicletas estacionadas do lado de fora.

O Fórum teve as participações de David Byrne, Arturo Alcorta do www.escoladebicicleta.com.br , Eduardo Vasconscellos e Marcelo Branco atual Secretário dos Transportes, diretor da CET e da SPTrans e mediação de Paulina Chamorro da Estadão ESPN.

David abriu com uma palestra que ilustrou com fotos a arquitetura e a loucura em que as sociedades viciadas em carros se transformou. Um resumo muito curto e superficial de seu livro. Mas deixou esperanças aos ciclistas paulistanos, descreveu nossa cidade como ciclável e com gente nas ruas.

Alcorta apontou a falta de participação do brasileiro nas questões de cidadania e os perigos de nossa bipolaridade, a não existência intermediária entre “o contra ou o favor”.

Vasconscellos mostrou a falta de equidade nas cidades do Brasil, a desigualdade na política pública, foi aplaudido quando pediu a urgente redução da velocidade dos veículos nas ruas e cravou os pés de todos ao chão, quando nos lembrou que em Brasília, na mais alta classe política do país, aquela que decide os nosso rumos, a mobilidade em bicicleta está totalmente fora dos planos.

Marcelo Branco repetiu a frase guia dos cicloativista “compartilhar as ruas”. Afirmou que a CET que ele dirige é mesmo voltada apenas aos veículos e não ao cidadão, a dificuldade de se mudar aquilo que ele chama de “cultura” e eu de preconceito. O Secretário dos Transportes de SP finalizou com a exposição da Ciclorrota do bairro do Brooklin que será inaugurada na próxima semana como uma grande vitória de sua gestão.

De fato a Ciclorrota é uma quebra de paradigma, pois trata-se da primeira sinalização da Cidade de São Paulo que inclui a bicicleta nas ruas, a circulação é compartilhada com os automóveis e a velocidade está limitada a 30 km/h.

Já pedalei na Ciclorrota do Brooklin, aprovei, veja o vídeo: Sinalizar a presença de ciclistas nas ruas é mais uma das obrigações da Secretaria de Transportes, artigos 21 e 14 do CTB.

http://www.youtube.com/watch?v=8C4Vkn-OjFk&feature=share

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