CARTA ABERTA AOS VERDES
Prezados Verdes,
Infelizmente a direção estadual de São Paulo acaba de ser novamente cancelada pelo presidente nacional José Luiz de França Penna. É uma decisão arbitrária, tomada pela segunda vez em menos de quatro meses, sem que a Executiva Nacional fosse ouvida e contra as próprias atribuições estatutárias. O estatuto do Partido Verde prevê mandatos de dois anos e essa direção que estava em vigor não completou um ano e três meses. Entretanto, para nosso presidente pouco importa o que está escrito no estatuto, o que impera são suas vontades.
Mas como funciona esse modelo de nomeação implantado no partido? Contrariando o estatuto do PV, o presidente define de sua cabeça os prazos de validade para as direções estaduais, de forma que elas fiquem sob seu controle. A cada período os presidentes estaduais têm que ir com o “pires na mão”, para negociar sua permanência em troca de “bom comportamento”. Esse mecanismo, além de obscurantista, acentua uma forma de fazer política que não condiz com as propostas que apresentamos para o século XXI. Me nego a ir com o pires na mão para negociar com o presidente nacional. É este processo do “toma lá da cá” que sustenta uma maioria artificial e autoritária na direção nacional do partido.
Mas quais são os pontos sobre os quais discordamos e levaram o Penna a cancelar a direção de São Paulo? A atual executiva estadual de São Paulo atendeu a todos os critérios estabelecidos no plano de metas das eleições de 2010, cumprindo a tarefa de aumentar as bancadas parlamentares, de contribuir para a eleição de dirigentes e de atingir o quociente mínimo de 5% dos votos válidos. Esta mesma direção apresentou os melhores resultados eleitorais do PV em todo o Brasil no pleito de 2010, conforme apontam os seguintes índices percentuais, de acordo com o TSE:
Votação para Deputado Federal (geral): 1.716.592 ; 8,05%
Votação para Deputado Estadual (geral): 1.949.603 9,18%
Votação para Senador: 4.117.634 votos - 11,2%
Votação para Governador: 940.379 votos – 4,13%
Votação para Presidente: 4.865.828 votos - 20,77%
Se a direção de São Paulo apresentou os melhores resultados, cumpriu a árdua tarefa de eleger dirigentes, e ainda teve o desgaste de cumprir a decisão da executiva nacional de colocar com prioridade na TV esses candidatos, qual a razão pela qual ela servia antes e agora não serve mais?
A resposta é simples e caminha em duas direções: a primeira é que a direção paulista colocou em prática um projeto para democratizar o Partido Verde no estado, projeto esse que consistia em realizar eleições regionais, municipais e estaduais. Esse projeto já estava em andamento, pois realizamos as eleições regionais que foram bem sucedidas. Agora começaríamos as eleições municipais para que as comissões provisórias se tornassem diretórios de verdade e depois realizaríamos até agosto deste ano as eleições para a executiva estadual. Para garantir a isenção neste processo, eu já havia renunciado à possibilidade de concorrer à reeleição, pois, se sou contra a reeleição do Penna há 13 anos no Poder, devo ser o primeiro a dar o exemplo.
Esse processo de democratização, que foi aceito e festejado por todos os filiados, que pela primeira vez iriam votar, pelos coordenadores regionais e pelos presidentes municipais que lotaram a Assembléia Legislativa para apoiar e aprovar esta idéia, encontra-se totalmente comprometido pela decisão de cancelamento da direção de São Paulo. Esse comportamento autoritário faz todo o sentido. Se a onda da democracia pega, daqui a pouco os filiados passarão a pedir eleições diretas para presidente nacional do partido.
A segunda razão se refere ao fato de que este presidente que vos escreve, na única reunião da executiva nacional deste ano, votou contra a proposta de ampliação automática do mandato da direção nacional sem eleições diretas, no que foi acompanhado pela ampla maioria dos demais dirigentes estaduais presentes. Como se não bastasse, organizamos um grupo para debater a democracia interna, quese denominou “Transição Democrática”. Percorremos os estados para debater as mudanças no estatuto do Partido Verde, acompanhados de nossa candidata à Presidência da República Marina Silva. Por onde passamos, além de resgatar a esperança de todos os filiados, discutimos em audiências públicas quais eram os principais problemas da nossa carta interna, nunca ofendendo a direção do partido, apenas reconhecendo que precisamos de mudanças.
Mesmo com toda esta cautela, em cada estado por onde a Caravana da Democracia passava, contabilizávamos a baixa de um dirigente que nos apoiava. Sem autorização da Executiva Nacional, sem colocar em votação e nem convocar uma reunião da direção nacional, expurgou os dirigentes estaduais ligados à Transição Democrática nos estados do Ceará, Mato Grosso e agora São Paulo. O cancelamento de São Paulo aconteceu porque o Penna não quer democracia interna e não deseja construir um projeto autônomo para o partido. Tornamo-nos mais um partido como os outros, somos reféns do “peemedebismo”, uma espécie de federação de interesses, cujo desejo maior é entrar em qualquer governo, independente do conteúdo programático.
A direção do Partido Verde se encastelou: não se reforma e nem deixa se reformar. O PV, como todos os Partidos nessa era de desilusão com a política, está acomodado na tradicional posição de fazer o cerco e a corte ao poder e, com isso, não nos afirmamos na sociedade. Somos, talvez, o único partido que poderia fazer essa ponte entre a sociedade e a necessidade de organização institucional, mas preferimos acentuar os instrumentos da política tradicional, pois nosso presidente não está antenado com os recados dados pelos 20 milhões de pessoas que votaram e pediram pelo novo jeito de fazer política.
A resposta dada àqueles que pedem por mais democracia, mais tolerância aos que pensam diferente, mais transparência, mais diálogo, mais generosidade foi a velha e tradicional “canetada do Penna”, ou seja, a manutenção do instrumento da provisoriedade para garantir sua tutela e, infelizmente, a não abertura para o processo democrático dentro do PV.
Como diz o Chico Buarque, algumas pessoas têm medo da mudança, eu tenho medo que as coisas nunca mudem. É uma Penna!
É ESSE O PARTIDO QUE QUEREMOS?
Maurício Brusadin
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