15 de junho de 2011

De patins, empresário vai encarar 741km que separam o DF de Belo Horizonte

Consciência ambiental: Guto levará 14 mudas de árvores do Cerrado para plantar no caminho.


Brasília tem 51 anos e quase 1,25 milhão de veículos em circulação. A frota não para de aumentar. Para não fazer parte dessa estatística e engrossar ainda mais o trânsito da capital federal, Augusto Ziller, 35 anos, encontrou um jeito divertido de se locomover e, de quebra, contribuir para a luta contra as mudanças climáticas. Em vez de pegar o carro, ele tira do armário um par de patins. E, neste ano, vai percorrer mais do que os cerca de 25 quilômetros diários. Ele está fazendo uma viagem até Belo Horizonte (MG) em cima de oito rodinhas. Ele saiu do DF na segunda feira, 13 de junho, e chegará à capital mineira oito dias depois, onde será recepcionado por jogadores do Atlético Mineiro, clube do qual é torcedor.


Guto, como é conhecido, não quer fazer o trajeto até Belo Horizonte sem deixar uma marca. Ele levará 14 mudas de árvores frutíferas e típicas do Cerrado para plantar ao longo do caminho. A cada 50 quilômetros percorridos, ele vai parar para descansar, abastecer a mochila de água e mantimentos e deixar uma contribuição para o planeta. “Não é só um sonho que realizo, tem esse trabalho de consciência ambiental também”, explicou. O empresário vai registrar toda a viagem para depois transformá-la em livro. “Sei que é perigoso, mas tenho que fazer isso enquanto tenho saúde. Quero ter histórias para contar”, disse.


A ideia de viajar até Minas Gerais, onde mora a família dele, surgiu por acaso, como um desafio pessoal. “Queria fazer um lance diferente com o que mais gosto de fazer, que é patinar”, disse o empresário. Há sete anos, começou a elaborar um plano e a traçar metas para realizar o sonho. Desenvolveu projetos, estudou a rodovia para saber se conseguiria concluir o percurso e se preparou física e psicologicamente. Assim surgiu o projeto Brasília-Belo Horizonte por um mundo melhor. “Teve gente que disse para eu não fazer isso, que não seria possível. Mas para mim uma coisa só é impossível até que alguém faça”, disse.


Preparação

Há um ano, o empresário intensificou a rotina de treinos e melhorou a alimentação. Para se preparar para o grande feito, ele participou de uma competição em março, quando percorreu cerca de 200 quilômetros de uma só vez com os patins. Mas a ideia é vencer aproximadamente 100 quilômetros por dia na estrada (veja arte). “Treinava todos os dias à noite, saía de casa às 22h e só voltava depois das 3h. Tentei percorrer a mesma distância para simular a viagem”, contou. Agora, é só descansar e esperar pelo tão sonhado dia. “Confesso que estou muito ansioso, os dias têm demorado bastante para passar.”


Nesse período de preparação, Guto recebe acompanhamento de um nutricionista e de um fisiologista. Ele também não percorrerá o trajeto sozinho. Um amigo vai acompanhá-lo de carro para dar suporte e incentivo, caso falte algo ao empresário durante os nove dias na estrada. Na mochila, ele carregará dois litros de água, um litro de bebida isotônica, banana passa e óleo de coco. Todos esses produtos serão repostos a cada parada.


O interesse para os patins começou quando uma namorada de Guto ganhou um par do acessório, em 1994. Como não queria ficar para trás, tratou de comprar um. “Meu irmão também tinha e rolava uma competição saudável entre a gente. Tudo o que ele fazia eu tinha que fazer melhor”, admitiu. Em três meses, ele aprendeu a andar e saltava alguns obstáculos, como rampas e carros. Seis meses depois, ficou em terceiro lugar no campeonato brasiliense e, em um ano, ganhou o título de campeão brasileiro. Foi vice-campeão brasileiro de street, uma das modalidades, e, depois, campeão de velocidade. Mas decidiu parar de competir.


Patins como meio de transporte

Quando passou no vestibular para educação física na Universidade Católica de Brasília (UCB), Guto se deparou com um dilema. Não tinha dinheiro para pegar ônibus ou colocar gasolina no carro e, então, decidiu fazer o trajeto de patins — pouco mais de 40 quilômetros. Até hoje, o equipamento é o principal meio de transporte dele. Todos os dias, ele vai até o Shopping Iguatemi, no Lago Norte, onde mantém uma loja. “Nós temos dois carros, mas só uso o meu quando preciso levar os filhos na escola ou quando tenho que fazer uma compra grande no supermercado”, explicou.

Por volta das 10h30, Guto coloca os patins e se aventura pelas ruas de Brasília diariamente. Ele sai da 402 Norte, onde mora, e segue pelo Eixão Norte. Leva cerca de 20 minutos para chegar ao destino, quase o mesmo tempo de um carro. Mas com a vantagem de fugir dos engarrafamentos e praticar uma atividade física regularmente. Para ele, é mais perigoso andar pela cidade do que na estrada. “Aqui, as pessoas estão muito estressadas e não se respeitam”, avaliou.

Essa não será a primeira vez que o empresário pegará a estrada com patins e mochila nas costas. Em 2000, o empresário foi até Goiânia (GO). A mãe só ficou sabendo da aventura dois anos depois. Ela não aprova as maluquices do filho. Já a mulher teve de concordar e hoje incentiva o marido. Guto viajou para Anápolis (GO), Cristalina (GO), além de outras cidades próximas ao Distrito Federal, sempre sobre as oito rodinhas. Depois de Minas, o empresário não pretende parar com as empreitadas. Após nascimento do segundo filho, mais viagens aparecerão.

Thaís Paranhos


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