Benedito recebe até 20 orçamentos por mês para conserto de equipamentos queimados em razão de apagões |
As constantes interrupções de fornecimento de energia elétrica pela Companhia Energética de Brasília (CEB) têm causado prejuízos e transtornos para a população do Distrito Federal. Por conta desse problema, a Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) recebeu, nos 10 primeiros meses deste ano, 4.646 reclamações, ou seja, 464 registros por mês. O número subiu 8,66% em relação à média do ano passado, quando foram constatados 5.130 casos de falta de luz, com 427 ocorrências mensais.
Dados obtidos pelo Correio mostram ainda a insatisfação geral dos usuários com os serviços da CEB. Atendimento precário, baixa qualidade dos trabalhos técnicos e cobrança indevida estão entre os principais problemas citados nas 782 queixas recebidas pela companhia em 2011 — contra 832 de todo o ano passado. A média mensal aumentou 13%, agravando-se a partir da greve dos funcionários.
A insatisfação faz parte do vocabulário do empresário Michiu Izawa, dono de um centro automotivo em Vicente Pires. Desde 2008, ele teve quatro compressores queimados por interrupções na energia. “O motor é trifásico. Se faltar uma fase, ele queima”, explicou. Nos últimos anos, Izawa calcula ter gastado mais de R$ 1 mil no conserto da máquina. A última vez que levou o compressor para uma oficina autorizada foi em maio e os valores cobrados giram em torno de R$ 250 a R$ 300.
Os prejuízos do empresário são resultado da falta de investimento da CEB na rede elétrica durante sucessivos governos. Picos de energia e apagões são cada vez mais recorrentes na capital federal, escolhida para sediar jogos da Copa do Mundo em 2014, entre outros eventos internacionais. A dívida da companhia relacionada a multas é de R$ 2.853.437,07, ainda não pagos à Aneel. Em 2010, a companhia também foi multada em R$ 3.359.342,32 por descumprir os indicadores de Duração Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (DEC) e Frequência Equivalente de Interrupção por Unidade Consumidora (FEC). Eles medem o intervalo de tempo das paralisações no fornecimento e o número de vezes que faltou energia.
Manutenção
É da precariedade no fornecimento de luz no DF que o técnico em eletrônica Benedito Borges Silva, 60 anos, tira parte do sustento da família há seis anos. A loja dele, em Vicente Pires, chega a receber entre 15 e 20 pedidos de orçamento para conserto de televisores, geladeiras, computadores, fornos, máquinas de lavar e outros equipamentos queimados em razão dos apagões. Na última sexta-feira ele faturou R$ 400 apenas com um cliente que teve três eletrodomésticos queimados. “A luz aqui é fraca demais. A voltagem, que era para ser de 220 volts, aqui fica em 190 volts. É só chover que queima tudo”, contou.
No último domingo, as mais de três mil pessoas que visitaram a 30ª Feira do Livro ficaram às escuras. Segundo a diretora executiva do evento, Lêda Simone Costa, o pavilhão de exposição no Parque da Cidade ficou cerca de uma hora e meia sem luz. “A nossa preocupação foi com a segurança dos frequentadores e com os expositores, mas graças a Deus não houve pânico e o público se distraiu com algumas apresentações teatrais durante a falta de energia”, contou. Para a curadora do evento, Iris Borges, o problema gerou impactos negativos. “Muitas pessoas foram embora. O último dia (do evento) poderia ter sido um recorde de público e vendas”, reclamou. Só no domingo, a CEB recebeu mais de mil reclamações.
Modernização
A melhoria na oferta de energia elétrica só será sentida pelo consumidor em meados de junho do próximo ano, com o término da ampliação e construção de subestações e linhas de transmissão e a troca de cabos antigos por outros mais modernos. Este ano, a previsão de investimentos até dezembro é de R$ 98 milhões. Até junho, outros R$ 90 milhões serão gastos na melhoria do sistema e, até o fim do governo, em 2014, os recursos aplicados no setor devem totalizar R$ 543 milhões.
Fonte: CB
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