Sabe aqueles pneus que os motoristas deixam nas lojas especializadas, após trocar os velhos pelos novos? Pois é, as unidades devem ser encaminhadas a um armazém localizado no Setor P Sul, em Ceilândia. Lá, são recolhidos pela Associação Nacional da Indústria de Pneus (Anip), por meio de uma empresa terceirizada. Mas, no Distrito Federal, somente um em cada quatro pneus descartados, ou seja 25%, têm a destinação correta. Os demais geralmente vão parar no Lago Paranoá, Lixão da Estrutural ou permanecem com borracheiros, de forma irregular.
Segundo o Serviço de Limpeza Urbana do DF (SLU), cerca de quatro milhões de pneus são descartados em média por ano e 960 mil são armazenados no P Sul. Diretores do SLU afirmam que é função do órgão recolher todas as unidades encontradas em qualquer ponto do DF, mas nem metade é localizada.
O servidor público Diego Coelho tem carro e assim como muitos brasilienses não sabe o que é feito com os pneus deixados nas lojas especializadas. "Não sei como é feita a destinação das unidades usadas, jamais fui informado e não faço a mínima ideia". Coelho não é o único e o correiobraziliense.com.br conversou com vários motoristas que admitiram também não saber qual a destinação dos pneus usados. "Quando soube que de cada quatro pneus descartados apenas um vai para o local correto, achei um absurdo. Faltam políticas de conscientização", concluiu o servidor.
Uma loja especializada em pneus, localizada na quadra 513 sul, descarta cerca de 4800 unidades todo ano. Deste total, cerca de 20% voltam para os clientes e 80% são levados para Ceilândia. "Muitas pessoas fazem o serviço com a gente, mas não gostam de deixar os pneus aqui, pois acham que iremos revendê-los. Elas levam os usados para casa, os transformam em entulho e muitas vezes ajudam a proliferar doenças como a dengue", disse o supervisor do estabelecimento, Francisco Alvino de Oliveira.
A loja chegou a criar uma Declaração de Conhecimento de Destinação de Pneus usados. No documento, o cliente que não deixar o pneu na loja para ser descartado se compromete a dar uma destinação correta ao material. Para isso, há dicas do que deve ser feito e, além disso, todos os dados (do pneu e do cliente) são deixados no estabelecimento.
Políticas públicas
Segundo o diretor de Operações do SLU, Delival Lemos, a capital federal tenta implantar a política da "Logística Reversa", que deve ser totalmente feita até 2014, de acordo com o Plano Nacional de Resíduos Sólidos, artigo 33. As regras estipulam que as lojas especializadas em serviços de pneus recebam unidades usadas e as devolvam para o fabricante. Assim, a indústria ficará responsável por fazer o descarte e a reciclagem do material recolhido. "Aqui no DF, por conta do poder aquisitivo dos moradores, pneus com meia vida [descartados com metade do tempo de uso devido] são trocados diariamente. Os núcleos de limpeza das cidades [13 no total] recebem e repassam todas as unidades ao armazém (de Ceilândia)", conta Lemos.
De acordo com o SLU, artesãos e borracheiros autorizados a receber pneus da Anip são credenciados, "pois, assim, conferimos se eles também dão uma destinação a pneus de forma a não poluir o meio ambiente", conclui o diretor de operações do órgão.
Já a Secretaria de Meio Ambiente do Distrito Federal informou por meio de nota que "o DF não tem até hoje nenhuma política neste assunto". Além disso, explicou que "o Ministério do Meio Ambiente criou um grupo de trabalho e espera-se que até o fim deste ano haja políticas para tratar do tema, nacionalmente".
A pasta disse ainda que a implementação do Plano Distrital de Resíduos Sólidos está prevista por meio da coleta seletiva, aterro sanitário e políticas paralelas. Segundo a secretaria, haverá 100 ecopontos, modernização das usinas de lixo e outras ações. "A situação só será resolvida com políticas públicas e destinação eficiente dos resíduos sólidos", diz a nota.
Problemas à saúde
Para a técnica do Ministério do Meio Ambiente, Mirtes Boralli, o maior problema do descarte de pneus acontece quando eles são queimados. "O material é muito tóxico e nocivo à saúde. Quando ateiam fogo, a fumaça prejudica, e muito, o ar do local, além da respiração das pessoas". Mirtes disse ainda que "pneus acumulados proliferam a dengue, pois acumulam água. Além disso, podem cair em redes de esgoto, entupí-las e causar enchentes e demoram, e muito, para serem degradados no meio ambiente".
Sobre a forma de descartar os pneus, a técnica disse ainda que não é viável jogá-los em aterros sanitários. "A estrutura do local já está poluída e não tem condições de decompor um pneu. Portanto, quando vão parar lá, acabam poluindo mais ainda", completou.
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