O consumo de frutos nativos do Cerrado, há milênios consagrado pelos índios, foi de suma importância para a sobrevivência dos primeiros desbravadores e colonizadores da região. Por meio da adaptação e desenvolvimento de técnicas de beneficiamento dessas frutas, o homem elaborou verdadeiros tesouros culinários regionais, tais como licores, doces, geleias, mingaus, bolos, sucos, sorvetes e aperitivos. Hoje, o interesse por essas frutas já atingiu diversos segmentos da sociedade.
Entretanto, o interesse industrial pelos frutos nativos do Cerrado não vem de hoje. Durante a Segunda Guerra Mundial, a mangaba foi bastante explorada, para a produção de látex. O babaçu e a macaúba foram bastante estudados na década de 1970, em substituição ao óleo diesel. O pequi já foi industrializado, sendo o seu óleo enlatado e comercializado. A polpa e o óleo de macaúba são utilizados na fabricação de sabão de coco. O palmito da gariroba, de sabor amargo, começou a ser comercializado em conserva recentemente, à semelhança do palmito doce. Mesmo em menor escala, alguns restaurantes da região Centro-Oeste têm valorizado a culinária regional, baseando seus cardápios em frutos nativos da região. Os sorvetes de cagaita, araticum, pequi e mangaba fazem o maior sucesso nas sorveterias de Brasília, Goiânia e Belo Horizonte.
Aliado a todo esse potencial, também é de suma importância o investimento na sustentabilidade e conservação das espécies nativas do Cerrado em seu habitat natural. Investimentos na domesticação de fruteiras nativas para serem lavouras comerciais podem representar uma solução preliminar, para que haja dessa forma, um extrativismo racional, que funcione como boa opção de fonte de renda para as populações locais.
Se por um lado, sob a égide do agronegócio – o avanço das monoculturas, especialmente da soja, continua a devastar enormes áreas de concentração de riquezas no Cerrado brasileiro – por outro, este início de século XXI representa uma era de crescente valorização e investimentos em relação ao bioma. Os recursos naturais da savana mais rica do mundo estão se tornando cada vez mais, objeto de pesquisas acadêmicas. Somado a isso, empresários de diferentes regiões têm demonstrado real interesse na aquisição da polpa de frutos do Cerrado.
Instituições de ensino superior como a Universidade de Campinas (Unicamp), Universidade de Brasília (UnB) e Universidade Católica de Goiás (UCG) têm investido em estudos sobre o Cerrado, investigando as propriedades das frutas típicas do bioma, sobretudo em relação às suas características funcionais. Os resultados dos estudos, que estão em fase intermediária, são animadores. Já é possível afirmar com certeza que o pequi e o araticum, por exemplo, possuem fatores antioxidantes, que podem preservar a saúde da população contra doenças degenerativas. Essas frutas podem ser manejadas por pequenos agricultores, o que aumentará os indicadores de emprego e renda na região. Além disso, a exploração racional, o extrativismo sustentável de espécies nativas evitará que o Cerrado continue sendo devastado para dar lugar a megalavouras ou imensas pastagens para o gado.
Saudações Verdes!
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